quinta-feira, 31 de julho de 2008

ANGELA STECCA-40 ANOS DE REINADO



















Aos 57 anos, Ângela Stecca relembra de Uberlândia dos anos 60 e da carreira
Carlos Guimarães Coelho - Especial para o Correio de Uberlândia


Ela viveu todo o glamour que uma adolescente de 15 anos possa sonhar. Da pacata e conservadora Uberlândia dos anos 60, a tímida Ângela Stecca alçou vôo para a fama, tornando-se Miss Minas Gerais e galgando também os postos de Miss Brasil 2 e depois de Miss Brasil 1, este último transferido pela primeira colocada do concurso, Marta Vasconcelos, quando esta se tornou Miss Universo. Foi capa das principais revistas da época e freqüentou praticamente todos os programas da televisão brasileira.

Nascida em Poços de Caldas, veio ainda bebê para Uberlândia, onde viveu toda a sua infância e adolescência. Se dependesse dela, que, além de tímida, se considerava fora dos padrões de beleza, por ser alta e magra, jamais conquistaria estes títulos. Ela conta que foi tudo obra do acaso. Era costume na época, alguns olheiros freqüentarem os famosos bailes de debutantes, festa coletiva comum até os anos 70, quando as garotas eram apresentadas à sociedade ao completar os 15 anos. Assim, ela foi escolhida Miss Debutante e depois Miss Uberlândia para representar a cidade no concurso em nível estadual.

Ela também foi a primeira top model internacional saída de Uberlândia, de uma lista que viria a crescer a partir da década de 80.

Ainda assim, não se sentiu compelida a seguir carreira em nada que fosse ligada à moda ou à beleza. Hoje é corretora de imóveis nos Estados Unidos, onde vive há quase duas décadas e afirma que, embora tenha lembranças alegres, não possui nenhum sentimento nostálgico. Daqueles tempos, traz apenas a satisfação de ter ainda, depois de 40 anos, a presença de fãs e mensagens de carinhos, sobretudo na internet.

Embora avessa a entrevistas, Angela recebeu o CORREIO de Uberlândia com muita simpatia e falou um pouco de si mesma, da época em que conquistou os títulos e de sua trajetória desde então.

Você se tornou uma celebridade em uma época que nem era tão comum o culto às estrelas. Como foi saltar para a fama, de uma cidade tão pequena e pacata, e atrair a atenção da mídia em nível nacional?

Foi uma grande surpresa. Era muito tímida, muito moleca, nunca tinha usado saltos e era cheia de complexos por ser alta e magra. Tinha, no colégio, o apelido de vara de apanhar mamão (risos). Era o tipo Patinho Feio. Me achava feia, desengonçada (risos). Então era assustador, não estava acostumada àquilo tudo. E, na verdade, nem me dedicava a isso. Se havia um compromisso às 7h, enquanto todas as candidatas desciam uma ou duas horas antes, eu descia às cinco para a sete. Eu não tinha jogo de cintura, não tinha essa coisa de fazer jogo com a mídia.

Então, a conquista dos títulos na época foi uma grande surpresa pra você?

Sim, era tudo muito assustador para uma menininha de 17 anos, de Uberlândia. Nem sei como tudo aconteceu. O engraçado é que em todos os concursos eu era considerada a favorita. Mas, no Miss Brasil, me deparei com uma Martha Vasconcelos, que era Miss Bahia, tinha 22 anos, estava se formando em psicologia e eu era uma garota tímida do interior de Minas. Ela acabou ganhando o título, passando-o para mim depois que se tornou Miss Universo.

Como era a Uberlândia daqueles tempos?

Há 40 anos, tinha 17 anos. Tenho lembranças boas do Uberlândia Clube, das reuniões de amigos no Cajubá, das festas como A Rainha da Primavera, entre outras. Era tudo muito bom. Se não tivesse a oportunidade de sair e ampliar meus horizontes, acho que teria me casado por aqui e estaria ainda morando na cidade, não teria saído. Mas a Uberlândia daquela época também era muito conservadora. A gente acabava enfrentando muitos preconceitos. Até meu pai se envergonhava da minha carreira. Eles acabaram se mudando daqui porque o preconceito era muito grande.

Teve algum fato pitoresco na sua trajetória?

Vários. Mas tem um do qual me lembro bem. Hoje em dia, as modelos quase não comem antes dos desfiles. Imagine você que no concurso Miss Minas Gerais, no almoço foi servida uma feijoada (risos). E, para piorar, eu, que nunca havia bebido, tomei uma caipirinha. Caí na cama e só acordei super-atrasada, quando minha mãe chegou do salão. A sorte é que ela havia levado a maquiadora para me conhecer. Daí, improvisamos tudo, até o arranjo no cabelo que, na pressa, foi feito com chumaços de algodão (risos). Outra coisa da qual não me esqueço é que quem fez o meu vestido para o concurso Miss Minas Gerais foi uma costureira de Uberlândia, cujo nome infelizmente não me lembro. Foi o vestido mais lindo que já usei. Já para o concurso Miss Brasil, o vestido foi feito por uma estilista muito famosa, recomendada pela primeira-dama, Sara Kubitschek. Era um horror. Pesadíssimo. Tinha uns 30 quilos e eles ainda inventaram que tinha de andar a passarela toda na ponta dos pés. Nem me pergunte como consegui fazer aquilo (risos).

É verdade que você deixou para trás um grande amor?

Tive. Não vou negar não, tive um grande amor em Uberlândia. Mas era aquela coisa de adolescente.

E é verdade também que, na mesma época, um milionário de São Paulo apaixonou-se por você?

Sim, era o dono de uma companhia, que hoje seria algo como o Fedex (companhia de correspondências norte-americana). Daí, todas as manhãs, durante quatro meses, acordava com dois buquês de rosas vermelhas à beira da cama. O conheci em janeiro de 69, em um baile no Teatro Municipal de São Paulo, e me casei com ele em junho. Lembro que o Denner e o Clodovil fizeram o meu enxoval. Mas fiquei casada com ele por muito pouco tempo. Foram apenas 14 meses.

Muitas histórias e frases polêmicas são atribuídas a você. Naquele tempo você teria dito que era melhor “chorar em um Cadilac do que sorrir em uma carroça”?

Não. Nunca disse isso (risos). Até porque o rapaz que namorava em Uberlândia era socialmente muito bem posicionado. Morava em casa própria, acho que era o único que tinha um carro importado na cidade, símbolo de status social para os padrões da época. Mas, a última coisa que ele queria falar era em casamento. Enfim, não teria por que fazer uma declaração destas.

E, no campo sentimental, muitas histórias, muitos amores?

Você quer números oficiais mesmo ou relacionamentos? (risos). Considero que os relacionamentos também foram casamentos (risos). Para mim, não era importante assinar os papéis, mas sim o relacionamento. Depois do primeiro casamento, estava trabalhando em Milão, quando conheci um italiano, que é o pai dos meus filhos. Tive um casal de filhos. O mais velho tem 32 anos e está fazendo pós-graduação em Literatura nos Estados Unidos. A menina mora em São Paulo. Ficamos 10 anos casados. Depois, me casei com o jornalista Rodolpho Gamberini, que está na televisão (Rede Record) até hoje. Já nos Estados Unidos, me casei duas vezes, com dois americanos que têm o mesmo nome, Michael. E tenho também os meus períodos de solteira, quando eu tiro férias (risos). No momento, eu estou de férias.

Teve uma época também em que você raspou a cabeça? Isso foi uma estratégia de marketing pessoal?

Não. Isso era para uma campanha publicitária de um fio de tecido japonês. Éramos eu, o cantor Jorge Ben e mais três garotas. Como a campanha duraria três meses, tive de permanecer careca por este tempo. Isso foi em 1973. Me lembro que careca fui aos programas da Hebe, do Sílvio Santos e todos os talk-shows da época.

E, depois da glória, como foi a vida da ex-miss? Por que não se dedicou a alguma profissão ligada à beleza?

Os valores mudam. Há nove anos trabalho com consultoria de imóveis. Faço isso muito bem. Em todas as empresas que trabalhei, sozinha atinjo a meta da companhia toda. Sou sempre a melhor vendedora do ano. Gosto realmente do que faço. Nunca pensei em trabalhar com beleza. Foi algo factual. Hoje é página virada. O mito beleza não me pegou. Sabe que eu não sou muito vaidosa? No dia-a-dia, não uso maquiagem. A minha mãe é mais vaidosa que eu. Ela malha cinco dias por semana.
Os padrões mudaram ao longo dos anos. Concursos de miss, por exemplo, não têm mais o glamour e atenção de antigamente. Como você vê esse universo hoje e que conselho você daria para as garotas que querem se projetar por meio da beleza?

Não sei que conselho dar às jovens. No meu caso, aconteceu por acaso. Naquela época, ninguém se preparava para isso. Ninguém fazia ginástica ou cirurgias plásticas. Tudo mudou, né? Nos Estados Unidos, a carreira de modelo já não é tão efêmera. Existe mercado para todas as idades, 40, 50, 60 anos. Antes, usavam-se modelos de 20 anos para vender qualquer produto. O mercado está mais amadurecido. Trabalhei muito, inclusive na Europa. Mais passarela. Trabalhei para Christian Dior em Paris e para Valentino em Milão. Consegui chegar antes. As modelos brasileiras começaram a fazer sucesso na Europa a partir da década de 80. No meu tempo, acho que era mais complicado chegar a este ponto, pois a carreira não era bem-vista. Uma garota de bem não podia ser modelo. Naquela época falar que você era modelo, era quase como dizer um palavrão.

2 comentários:

beth disse...

Adorei ver a Ângela tão linda até hoje. Fomos colegas e muito amigas no Colégio Nossa Senhora das Lágrimas de Uberlândia. Realmente éramos muito molecas na época.Lembro-me da D. Haydeé Vasconcelos cuidando dos preparativos para a participação da Ângela no concurso.Ela cuidava da postura, etiqueta, etc.A Ângela tinha apenas 17 anos, e tiveram de mentir a sua idade para ela poder participar, o que era permitido apenas após os dezoito anos. Nem sei se ela se lembra de mim , mas eu me lembro muito bem dela. Tenho saudades daquela época, muito boa !E aquela coisa de miss foi realmente algo muito repentino. Abraços, e boa sorte, Ângela !

joao cordeiro disse...

Conheci Angela Stecca em Salvador quando a mesma desfilou no Balbinho antes da realização do Miss Brasil 1968,sabia que ela ficaria em um segundo lugar pois, Marta Vasconcelos ganharia o título. Msmo assim, guardo lembranças maravilhosas dessa Miss Minas Gerais

Seguidores